(des) Construíndo Equívocos?
Terceiro Equívoco
A filiação nas internacionais partidárias e as declarações de princípios, só por si, não tornam os partidos de direita, do centro ou de esquerda. Seria preciso analisar a praxis política, e ir para além das conjunturas e épocas. A cada nova Convenção alteram-se os Estatutos, a cada nova liderança reiventam-se linhas: «new labours», «terceiras vias», «novas mudanças», «novas eras»; a cada nova conjuntura económica e política mundial ou interna, mudam-se os focos, as doutrinas e as prioridades, a cada nova geração assumem-se novos valores e outros entram em crise ou desuso. É nesse turbilhão, nessas curvas e contra-curvas, nessa continuidade e descontinuidade, no «mixed» entre o antigo e o novo, que nos mandam conseguir detectar qual a linha ideológica condutora, se ela existe, se saiu do papel, se ela é global ou parcial, se comanda ou comandou a organização. Mal seria se eu concluísse que estar filiado na Internacional Democrática do Centro (IDC) ou na Internacional Socialista (IS) é irrelevante. Existe com certeza todo um network (rede) de personalidades e sinergias, de apoios e cores, de orientações, discursos e vozes. Mas conhecem os principais actores suficientemente as próprias ideologias que declaram professar? Se não, nada feito. A construção das políticas públicas ainda obedece a isso, ou segue simplesmente as necessidades e urgências? Se for esta última hipótese, nada feito.
Quarto Equívoco
Disseram-me que as ideologias não interessam a ninguém. É certo que as necessidades da vida levam-nos a dar primazia às coisas sobre as ideias, mas nem por isso, estas últimas tem deixado de ter a sua relevância e de ser farol. Até o exercício de estar contra a discussão dessas ideias é, no fundo, ideológico, por revelar um certo agnosticismo político, isto é, uma postura de indiferença intelectual propositada relativamente ao tema, um modo silencioso de enfrentar as suas complexidades. Se não interessam a ninguém, porque razão interessa a filosofia, porque interessa discutir o bem e o mal, o justo e o injusto, o melhor e o pior, contra ou a favor da pena de morte, contra ou a favor de ricos ou pobres? Ideologia é filosofia, mas também é prática política, é programa de governo, é governação. Não posso igualmente concordar com alguns críticos do primeiro artigo (primeiro e segundo equívocos) os quais se pronunciaram no sentido de não haver equívocos nenhuns, bastando, segundo eles, ter presente que o MPD é da IDC e o PAICV da IS. Esse argumento é demasiado formalista, só por si, porque ignora a praxis (prática). Amílcar Cabral nunca se declarou socialista nem de esquerda, pelo contrário, mostrou aversão ao regime comunista, centralizado e autoritário da ex-União Soviética. Aristides Pereira e Pedro Pires, também não. A ideologia dos três era, segundo diziam, a independência. José Maria Neves é seguidor de Carlos Veiga e Gualberto do Rosário no livre mercado, OMC, parceria com a União Europeia, Constituição democrática e pluralista, contra o salário mínimo já, pelo africanismo mitigado. Jorge Santos segue António Guterres e Ferro Rodrigues quanto ao salário mínimo nacional. José Sócrates segue Nicolas Sarkozy no estilo de políticas. Inversões de marcha ou, apenas, mudanças de faixa? Continua.
Milton Paiva
Terceiro Equívoco
A filiação nas internacionais partidárias e as declarações de princípios, só por si, não tornam os partidos de direita, do centro ou de esquerda. Seria preciso analisar a praxis política, e ir para além das conjunturas e épocas. A cada nova Convenção alteram-se os Estatutos, a cada nova liderança reiventam-se linhas: «new labours», «terceiras vias», «novas mudanças», «novas eras»; a cada nova conjuntura económica e política mundial ou interna, mudam-se os focos, as doutrinas e as prioridades, a cada nova geração assumem-se novos valores e outros entram em crise ou desuso. É nesse turbilhão, nessas curvas e contra-curvas, nessa continuidade e descontinuidade, no «mixed» entre o antigo e o novo, que nos mandam conseguir detectar qual a linha ideológica condutora, se ela existe, se saiu do papel, se ela é global ou parcial, se comanda ou comandou a organização. Mal seria se eu concluísse que estar filiado na Internacional Democrática do Centro (IDC) ou na Internacional Socialista (IS) é irrelevante. Existe com certeza todo um network (rede) de personalidades e sinergias, de apoios e cores, de orientações, discursos e vozes. Mas conhecem os principais actores suficientemente as próprias ideologias que declaram professar? Se não, nada feito. A construção das políticas públicas ainda obedece a isso, ou segue simplesmente as necessidades e urgências? Se for esta última hipótese, nada feito.
Quarto Equívoco
Disseram-me que as ideologias não interessam a ninguém. É certo que as necessidades da vida levam-nos a dar primazia às coisas sobre as ideias, mas nem por isso, estas últimas tem deixado de ter a sua relevância e de ser farol. Até o exercício de estar contra a discussão dessas ideias é, no fundo, ideológico, por revelar um certo agnosticismo político, isto é, uma postura de indiferença intelectual propositada relativamente ao tema, um modo silencioso de enfrentar as suas complexidades. Se não interessam a ninguém, porque razão interessa a filosofia, porque interessa discutir o bem e o mal, o justo e o injusto, o melhor e o pior, contra ou a favor da pena de morte, contra ou a favor de ricos ou pobres? Ideologia é filosofia, mas também é prática política, é programa de governo, é governação. Não posso igualmente concordar com alguns críticos do primeiro artigo (primeiro e segundo equívocos) os quais se pronunciaram no sentido de não haver equívocos nenhuns, bastando, segundo eles, ter presente que o MPD é da IDC e o PAICV da IS. Esse argumento é demasiado formalista, só por si, porque ignora a praxis (prática). Amílcar Cabral nunca se declarou socialista nem de esquerda, pelo contrário, mostrou aversão ao regime comunista, centralizado e autoritário da ex-União Soviética. Aristides Pereira e Pedro Pires, também não. A ideologia dos três era, segundo diziam, a independência. José Maria Neves é seguidor de Carlos Veiga e Gualberto do Rosário no livre mercado, OMC, parceria com a União Europeia, Constituição democrática e pluralista, contra o salário mínimo já, pelo africanismo mitigado. Jorge Santos segue António Guterres e Ferro Rodrigues quanto ao salário mínimo nacional. José Sócrates segue Nicolas Sarkozy no estilo de políticas. Inversões de marcha ou, apenas, mudanças de faixa? Continua.
Milton Paiva
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